
Foi notícia recentemente a detenção de cinco indivíduos em Espanha que teriam burlado duas mulheres em mais de 325 mil euros.
O esquema/scam passava pelo varrimento do facebook em busca de mulheres que tivessem perfis psicológicos com sinais de alguma fragilidade emocional mas uma condição financeira estável. Quando as localizavam convidavam as vítimas a aderirem a grupo facebook fechado de fãs do actor americano Brad Pitt. Estes homens geriam vários perfis falsos que alimentavam de conteúdos o grupo de facebook e a dado enviavam mensagens directas às vítimas colocando-as em contacto por WhatsApp com alguém que diziam ser Brad Pitt prometendo um relacionamento romântico e um futuro juntos. A rede de burlões usava assim o esquema duplo da ganância humana cruzada com a burla romântica clássica.
Fazendo-se passar por Brad Pitt, os golpistas sugeriram que as vítimas investissem em projectos fictícios, resultando em perdas de 175 mil euros para uma mulher na Andaluzia e 150 mil euros para outra no País Basco.
Não é nítido se a “página” (ou grupo facebook: como é mais provável) continua ou não ainda activa. Mas existiam, a 05.10.2024 várias páginas e perfis “Brad Pitt”:
https://www.facebook.com/search/pages?q=brad%20pitt. Isto sabendo-se que o actor não tem redes sociais (https://www.hindustantimes.com/entertainment/hollywood/brad-pitt-issues-a-statement-after-scammers-arrested-for-posing-as-actor-online-its-awful-that-they-take-advantage-101727314137087.html). Ou seja: todas estas páginas são falsas, denunciámos algumas ao facebook, mas dias depois, todas continuavam no ar.
Numa busca realizada a 06.10.2024 encontrámos 616 “Brad Pitts” sendo que alguns parecem partilhar a mesma imagem de perfil (um “v”) indicando que provavelmente pertencem à mesma rede ou operador. Alguns destes perfis parecem terem acabado de serem criados e estarem ainda na fase de credibilização (através da criação de redes de “amigos”) com fotografias de mulheres, africanos e industânicos e alguns, até com o endereço @ remetendo para o nome verdadeiro do scammer (Umar Salihu: um nome popular na Nigéria).
O actor tem sido usado para este tipo de esquemas desde há vários anos e utilizando vários métodos: o mais comum é uma abordagem romântica que rapidamente se transforma num pedido indirecto de verbas para um “investimento secreto” que, quase sempre, se traduz num investimento numa nova criptomoeda. O “investimento” começa num valor baixo (geralmente em torno dos 60-200 euros) e inicialmente até pode produzir algum retorno mas rapidamente sobe a valores mais altos chegando a um ponto em que se diz que o “valor está retido no Banco por causa de erros” ao mesmo tempo em que se pede mais “investimento” para recuperar o bloqueio: é geralmente nesta fase que é dado o grande golpe porque as vítimas na ânsia de recuperarem o investimento acabam perdendo uma verba ainda superior.
Propostas CpC:
1. As plataformas, como o Facebook, devem implementar mecanismos mais rigorosos para verificar a identidade dos utilizadores que criam páginas ou perfis em nome de figuras públicas. O uso de selos de verificação (o ✔️ que muitos scammers associam aos perfis falsos) deve ser melhorado, evitando que burlões usem nomes e imagens de celebridades.
2. Melhorar a detecção automatizada de perfis falsos, com inteligência artificial que identifique comportamentos atípicos, como a criação em massa de perfis com o mesmo padrão de conteúdo ou que partilham a mesma foto de perfil.
3. As autarquias locais – via rede de Universidade Seniores – devem realizar campanhas de sensibilização digital sobre fraudes online. As campanhas devem focar-se em educar sobre os sinais típicos de esquemas de burla romântica e golpes de investimento, reforçando a mensagem de que celebridades não entram em contacto directo através das redes sociais para pedir dinheiro.
4. Os meios de comunicação social, como rádio, televisão e redes sociais, devem dar informações sobre fraudes frequentes envolvendo figuras públicas.
5. Simplificar e tornar mais visíveis os sistemas de denúncia de perfis fraudulentos nas redes sociais, facilitando a acção dos utilizadores. A denúncia deve ser rápida e acessível, e as acções subsequentes (remoção do perfil) devem ser transparentes e mais ágeis.
6. Desenvolver e manter uma lista negra de perfis fraudulentos que tenham sido denunciados e confirmados como golpes. Esta lista poderia ser acedida pelo público para consultar a veracidade de perfis e páginas de figuras públicas.
Recomendações Específicas para as Vítimas Potenciais e Efectivas:
1. Nunca confiar em perfis de figuras públicas sem uma verificação oficial. As celebridades apenas muito raramente interagem diretamente com os fãs através de contas pessoais para negócios ou propostas financeiras.
2. Consultar fontes oficiais para confirmar se a celebridade tem uma conta oficial numa rede social específica.
3. Esteja alerta para situações em que a relação romântica é acelerada de forma suspeita, levando rapidamente a pedidos de dinheiro ou investimentos. Este é um sinal clássico de uma burla romântica.
4. Nunca transferir dinheiro para pessoas que não se conhecem pessoalmente, independentemente da história ou promessa apresentada.
5. Desconfie de promessas de “investimentos secretos” ou de oportunidades com retornos garantidos, especialmente em criptomoedas. As vítimas são frequentemente atraídas por ganhos iniciais que depois desaparecem à medida que o esquema evolui.
6. Consultar sempre um especialista financeiro antes de investir em qualquer proposta não solicitada ou apresentada de forma informal.
Estas fraudes românticas aproveitam-se da vulnerabilidade emocional e da confiança das vítimas, explorando tanto as lacunas na segurança das plataformas digitais quanto a falta de conhecimento sobre esquemas de burla online.
A combinação de maior regulamentação das redes sociais, educação pública e uma cooperação ativa entre plataformas e autoridades seriam essenciais para reduzir a prevalência desse tipo de crime. Infelizmente isso não está a acontecer razão pela qual o Legislador e as autoridades deveriam ser mais activos e levar as plataformas a serem mais cuidadosas com aquilo que permitem que aconteça nas suas redes.

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